Uma luta... desigual!



Empurrados e insultados, queixam-se os ciclistas. Lentos e inconvenientes acusam os automobilistas. Convivência entre carros e bicicletas é difícil

Lisboa é a cidade das sete boas desculpas para quem não quer pedalar e também das confusões no trânsito para os ciclistas. Raquel Merino é a prova de que os obstáculos da capital estão longe de serem as colinas. Enquanto se abriga do sol do meio-dia perto do Museu da Electricidade, em Belém, explica que a mentalidade dos condutores é a única fronteira a separar Portugal de outros países. "O problema é mais complexo do que as subidas e as descidas na cidade, o que falta mesmo é perceber que as estradas não são só para os automóveis". Desde que deixou de ter carro, a animadora cultural, de 30 anos, diz sentir na pele as dificuldade de andar de bicicleta. Entre a Ameixoeira, onde vive, até ao trabalho, nos Olivais, há condutores que a mandam para o passeio, ou que gritam um "vai tirar a carta". "Se andamos no corredor BUS, os táxis implicam connosco, se circulamos do lado de fora ficamos entalados entre os autocarros e os carros", lamenta.
As críticas mudam consoante os ciclistas. Há os que utilizam a bicicleta no dia-a-dia e os que apenas a usam para dar uns passeios. "As ciclovias são hoje muito melhores, mas dão voltas desnecessárias, são feitas para quem quer passear e não para os que pretendem ir para o trabalho". Marco Fonseca, o seu companheiro nesta viagem, acrescenta que os ciclistas não têm alternativa senão andar no meio do trânsito: "E pior é que os automobilistas não têm atenção à fragilidade da bicicleta, sobretudo os taxistas que saltam para cima sem avisar".
As críticas são, porém, devolvidas por Manuel Santos - taxista há dois anos. Não tem nada contra as bicicletas - ressalva - , mas admite que muitos delas o tiram do sério: "Andam à noite sem luzes e aos pares, parece que gostam mesmo de andar nas estradas", queixa-se, justificando que vê sempre as ciclovias vazias. Manuel já tem 70 anos e diz nunca ter visto tantas condições para quem quer pedalar. Há portanto apenas uma explicação para encontrar bicicletas no meio dos carros: "Acho que eles também gostam um bocadinho do perigo"

in http://www.ionline.pt/artigos/portugal/reportagem-i-pedais-motores-aos-encontroes-lisboa

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